Depois de confirmada a candidatura de Chagas Batista fiquei me indagando sobre o retrocesso do campo político em Tarauacá, a época áurea das lutas democráticas, do sonho do voto direto, da regulamentação dos direitos e obrigações políticas, da luta pela extinção do voto do cabresto, enfim da materialização da liberdade de escolha.
Mas o que dizer quando não temos escolha? O que fazer quando as opções que nos apresentam nada mais são do que a depreciação da democracia? Como escolher entre o ruim e outro da mesma proporção?
Apesar de não morar mais em Tarauacá, é lá que se encontram minhas raízes, foi subindo em árvores, empinando pipa, jogando peteca, que construí minha personalidade e foi ouvindo os conselhos de meus pais, na sua humilde sabedoria, que dei vida a meu caráter e a meus valores. Às vezes fico a recordar e envolto em pensamentos as imagens se tornam vivas em minha mente e se materializam como se estivesse vivendo aqueles momentos.
Me recordo com nitidez do campinho da Tupanir, do Fazendário, do campo do Zequinha Pinheiro da Praia no verão, onde todos os dias, religiosamente, nos reuníamos para jogar bola e dar vazão as nossos anseio de crianças, adolescentes. Parceiros como o Grosso, Dominguinho, Barriga, Sucuri, Bastinho, Calango Elétrico e Chaguinha fizeram parte da minha história.
O último nome citado pode causar uma enorme interrogação, mas é isso mesmo, Chagas Batista, à época, conhecido como CHAGUINHA, de alguma forma fez parte da minha vida, as lembranças não são das mais agradáveis, o raivoso desde cedo já demonstrava sua antipatia, quantas vezes presenciei quando chegava no campinho todo se peneirando, empurrando, batendo, fungando, como se fosse o dono do pedaço e ainda instigava-nos perguntando se tinha alguém que não estava gostando. Com exceção do carrancudo, todos eram da paz, mas chegou um momento que não aguentamos mais, então nos reunimos e cansados de sermos humilhados fomos à forra... quer dizer, nos juntamos e levamos Chaguinha na peia até sua casa e só paramos quando sua mãe o puxou para dentro.
São tantas histórias para relatar que poderia passar horas revivendo, certo dia o Barriga “conduziu-o” na peia desde o Fazendário até sua casa e de brinde, o cangaceiro dos campinhos, ainda levou uma mordida do cachorro. Além disso, tem história do Colégio Agrícola e o porquê (uma máquina de datilografia) de sua expulsão de lá e do antigo 2° Grau, em frente ao Instituto São José.
Mas o mais hilário de tudo é o motivo da alcunha Chaguinha, um dia presenciei uma cena no mínimo dantesca na Câmara municipal, Pinheiro Zumba, na época vereador, parece ter descoberto a história do diminutivo do nome Chagas e no meio de uma sessão ordinária chamou-o por esse codinome, a reação foi imediata e como represália uma porrada em cima da mesa que quase a partiu em bandas. Chaguinha temia ser revelado um dos seus segredinhos da adolescência e aqui não me convém publicar, pelo menos por agora, até porque a dissertação não termina por aí, ainda pretendo relatar como foi o ingresso do temido na política e as artimanhas que usou para abrir caminho no partido, mas...
Em síntese, todo esse relato é para comprovar que desde cedo Chaguinha é um sujeito complicado, briguento, cheio de vontades e quando é contrariado vira BICHO e se não consegue convencer com argumentos, faz chantagem e ameaça a quem se manifesta contrário a seus interesses. Essa prática continua vida a fora e a prova maior está na imposição, para o partido, de sua falida candidatura, sabe que não ganha, mas não tem a humildade de recuar e abrir espaço para outro, quer dizer, só pensa no próprio umbigo.
Ai eu pergunto: como seria um prefeito com esse perfil? Como Chaguinha reagiria ao ser contrariado? Será que a materialização de sua ânsia pelo poder não o tornaria ainda mais imediatista?
“A estupidez é infinitamente mais fascinante do que a inteligência. A inteligência tem limites, a estupidez não...” (Robert Louis Stevenson)