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5.6.11

A palavra de quem conhece

Minha opinião: chega de "puladinha"



“Nossa preocupação é fazer com que quem venha governar o Acre daqui mais alguns anos possa pagar a folha de pagamento sem atrasos”.

Com essa frase o Governador Tião Viana reuniu a imprensa no último dia 31 de maio em seu gabinete e anunciou um reajuste à todos os servidores públicos do estado no valor de 15 por cento, parcelado em 3 vezes, sendo a primeira em julho de 2011, a segunda em janeiro e a terceira em julho de 2012. O governo ainda estava em pleno processo de negociação com os sindicatos que representam o funcionalismo do estado quando tomou a decisão.

Hoje, quinta feira, 02.06, li uma afirmação do Líder do Governo na Assembléia Legislativa, Deputado Moisés Diniz, que o governo ainda está “aberto ao diálogo” com os sindicatos.

Desde a data do anuncio pelo governador, ainda não encontrei em nenhum dos jornais do Acre, uma posição oficial dos principais sindicatos do Acre e nem tão pouco das Centrais Sindicais (CUT e CTB), sobre esse assunto.

O cenário que antecedeu a decisão e o anuncio do governador foi marcado por movimentações esporádicas de algumas categorias em que as mesmas faziam as chamadas “ameaças veladas”. Cansei de ler, após algumas assembléias pouco representativas, especialmente de trabalhadores em educação a seguinte declaração: “nós exigimos 15% de reajuste e não aceitaremos o parcelamento”.

Pois é. O Governador anunciou o reajuste de 15 por cento parcelado em 3 vezes contrariando a decisão das grandes categorias. E agora?

O governador fez o jogo de quem está no poder, que usa a máquina pública para impor suas medidas, disseminar sua opinião e ainda se passar por “bonzinho”.

Há tempos que nossas principais lideranças do movimento sindical acreano estão sendo cada vez mais desmoralizadas por conta de suas relações incestuosas com os governos.

No caso específico da educação existem atualmente dois sindicatos (sinteac e simplac) dividindo nossa principal base da luta sindical do funcionalismo público acreano. Trabalhador dividido e sinônimo de vitória do patrão.

Não há no Acre uma política sindical definida e unificada por nossos principais instrumentos de luta popular que são os sindicatos.

É inegável que a Frente Popular do Acre conquistou avanços importantes para nosso povo. Avançamos muito em diversos aspectos, considerando que nosso estado estava sendo pessimamente administrado antes da FP. Particularmente não consigo encontrar razão para sentir saudade daqueles “outros tempos passados” Porém, suas principais lideranças que são oriundas do movimento popular, naturalmente, passaram a tratar os sindicatos como “células partidárias”, o que eu sempre considerei um erro.

Falo isso com conhecimento de causa. Militei num dos partidos da Frente Popular durante muitos anos, ao mesmo tempo em que atuava como sindicalista na área da educação. Sempre fui contra a relação incestuosa entre sindicato e governo. Sempre cobrei dos principais dirigentes estaduais do partido, que precisávamos fortalecer cada vez mais o movimento popular organizado para o bem de todos (sindicatos, trabalhadores e governos).

Em 2011, participei das primeiras discussões sobre a elaboração da pauta de data-base dos Trabalhadores em Educação da Rede Estadual. Eu e outros companheiros de Tarauacá fomos diversas vezes em Rio Branco.

Fizemos estudos técnicos, realizamos reuniões intermináveis, elaboramos propostas, discutimos em assembléias, montamos nossa proposta e a entregamos ao governo.

O governo tem em seus quadros os melhores técnicos, os bons assessores, negociadores, inclusive ex-sindicalistas e deveria saber que, anualmente e, especialmente, no mês de maio, acontece um processo de negociação com os trabalhadores. É o chamado mês da data-base. Porém, parece que esse período é sempre ignorado.

O governo faz investimentos e mais investimentos na educação e esquece que tem que deixar uma margem dos recursos para negociar com a gente. É assim todo ano. Estamos cansados da “puladinha de letra”. Esse “jeitinho companheiro” não é política sindical séria. Chega do discurso de sindicalistas e governo de que temos um dos melhores salários do país e melhoramos nossos índices de educação. Se for assim eles devem considerar que nossos índices melhoraram depois que nossos servidores da educação passaram a ganhar um salário melhor. Essa comparação com os salários oferecidos por estados ricos é esdrúxula. Vem morar em Tarauacá pra ver o nosso custo de vida.

Essa medida do governo de anunciar a proposta elaborada pelo governo afirmando que é a melhor, em pleno processo de negociação é, para mim, uma medida desrespeitosa e que fere a democracia.

O que o governo defende então? O fim dos sindicatos? O governo agora é o nosso ser superior e vai decidir tudo sobre a nossa vida? Finalmente encontramos o caminho do “céu’? É a nossa redenção? O governo agora pensa por nós?

Por fim, acho que até seria possível uma discussão mais séria sobre a nossa data-base se não fosse esse jogo de cartas marcadas. Compreendo que ainda há tempo de nos recuperarmos e construirmos a independência dos nossos sindicatos. 


Defendo total reorganização do movimento sindical acreano tendo por base a velha e boa luta de classes. 


Basta de negociações movidas apenas a cafezinho, câmeras fotográficas, notebooks, celulares, data-show, slides e ar condicionado. Vamos ter que ir conversar com o nosso maior patrimônio que são os trabalhadores e as trabalhadoras.

Raimundo Accioly
Pedagogo formado pela UFAC
Radialista e Blogueiro

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